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Com carta, Brasil manda mensagem em defesa da democracia

A leitura da Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito, feita na quinta-feira (11), na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no Largo de São Francisco, foi um claro recado ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e aos seus apoiadores de que qualquer tentativa de interromper o regime e tumultuar as eleições — desacreditando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e lançando suspeitas sobre a eficácia e a lisura do processo por meio das urnas eletrônicas — não serão tolerados.

O evento replicou o manifesto de 1977, lido então pelo jurista Goffredo Telles Júnior, contra a ditadura militar. No ato de ontem de manhã, alguns dos signatários do documento de 45 anos atrás estiveram presentes, o que deu ainda maior significado ao documento.

A leitura foi realizada em conjunto pelas professoras da Faculdade de Direito da USP, Eunice de Jesus Prudente, Maria Paula Dallari Bucci, Ana Elisa Liberatore Silva Bechara, vice-diretora da instituição, e pelo signatário da carta de 1977, o ministro aposentado do Superior Tribunal Militar Flávio Bierrenbach, 82 anos.

As arcadas da faculdade reuniram aproximadamente 1 mil convidados, mas, do lado de fora, no Largo de São Francisco, uma multidão estimada em mais de 8 mil pessoas acompanhava por meio de telões a leitura da carta. Ao término da leitura, estudantes puxaram um coro de “Fora Bolsonaro”, não acompanhado pela organização do evento — que em momento algum citou o presidente da República.

Antes da leitura, o professor Celso Campilongo, diretor da faculdade, afirmou que a o país segue com ameaças ao processo eleitoral, “nesse momento em que deveríamos estar vivendo apenas a festa da democracia”. Segundo ressaltou, a competência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é inquestionável.

“A competência é exclusiva do TSE, o resto é gente sem competência jurídica e sem competência moral para se intrometer no processo eleitoral brasileiro”, salientou, acrescentando que “a única força que pode dizer algo sobre o processo eleitoral brasileiro, é a força do eleitor, é a força do brasileiro — e ninguém mais”.

Para o advogado trabalhista Roberto Mônaco, 63, um dos idealizadores da carta de 1977, a emoção do reencontro com os colegas e a renovação de 2022 foi um dos fatores mais marcantes. “É o encontro da história com a energia militante do presente. É essa energia que precisaremos para manter a democracia e o estado de direito”, destacou.

Para o também idealizador do documento e aluno da turma de 1977, o procurador de Justiça do estado de São Paulo Luiz Marrey, 67, “o ato foi um sucesso e as pessoas deixaram claro o seu sentimento em defesa da democracia”.

Por Correio Braziliense

Foto: Nelson Almeida/AFP