Essencial para o planejamento de políticas públicas no país, o Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem sofrido uma série de baixas desde o início da pesquisa, no dia 1º de agosto. Já são pelo menos 6.550 casos de recenseadores que, frente às dificuldades, acabaram desistindo do estudo e abandonaram seus cargos, de acordo com informações do próprio órgão. Na semana passada, O GLOBO mostrou que têm se multiplicado as queixas, sobretudo de insegurança, destes profissionais. São relatos de descaso, hostilidade, desconfiança e violência em vários endereços brasileiros visitados, além de reclamações sobre falta de suporte do Instituto na rotina pesada dos agentes.
O IBGE minimiza as perdas. Procurado, o Instituto afirmou que o número de baixas representa menos de 5% do total de recenseadores em atividade, e que trata-se, portanto, de uma rotatividade esperada, “num contingente de mais de 150 mil recenseadores”.
“Eu fiquei muito espantada, de verdade, em ver como as pessoas perderam o respeito e a empatia”, contou, na semana passada ao GLOBO, a estudante de jornalismo Bruna Mecchi, de 22 anos, ex-recenseadora, que disse ter pedido desligamento do Censo. “Até há pessoas que nos recebem bem, que respondem ao questionário com entusiasmo, mas há também aqueles ignorantes e mal-educados. Já bateram a porta na minha cara, já gritaram comigo me chamando de golpista. Alguns colegas recenseadores foram recebidos com vassourada, baldes de água. Além de roubo de DMC (Dispositivo Móvel de Coleta, o celular adaptado usado pelos agentes), assédio, dificuldade de acesso em alguns setores como favela, enfim… é um trabalho extremamente perigoso e desvalorizado”.
O IBGE definiu as dificuldades como rotineiras nos censos e nas pesquisas amostrais, assim como nas pesquisas domiciliares de outras instituições, e afirmou que a tendência é que “sejam vencidas” até o final do Censo.
Pagamentos atrasados
Fato é que, para além das portas abruptamente fechadas, dos xingamentos, dos baldes d’água despejados e até um caso de racismo em Belo Horizonte (MG), muitos recenseadores precisaram – e precisam, ainda – lidar ainda com um atraso nos pagamentos nestes últimos dias. As reclamações inundaram as redes sociais do IBGE, e o órgão precisou se posicionar.
“O IBGE reconhece e pede desculpas pela demora na liberação do pagamento do trabalho de coleta dos recenseadores. O Instituto informa que está comprometido em reduzir esses prazos”, disse em comunicado publicado na última terça-feira (23). “O IBGE demonstra o compromisso de honrar as suas obrigações em remunerar aqueles que vêm trabalhando na operação censitária. Todos sabemos que realizar um recenseamento em cerca de 75 milhões de domicílios distribuídos em 5.570 municípios não é tarefa fácil”.
Questionado nesta quinta-feira, o IBGE afirmou ao GLOBO que os pagamentos foram normalizados esta semana em mais de 90% dos casos, reconhecendo que ainda há valores atrasados.
Por O Globo
Foto: ESTFANY SOARES/DIVULGAÇÃO/JC






