A justiça do Rio Grande do Sul realiza, na próxima segunda-feira (3), uma audiência para ouvir os envolvidos na acusação de racismo registrada pelo representante comercial feirense Nefferson Martins, contra o Hotel Travel Inn Axten Caxias do Sul.
O caso aconteceu no final de outubro de 2021, quando Nefferson, que é natural de Feira de Santana (BA), foi expulso do hotel,
após o estabelecimento suspender as reservas, sem apresentar justificativas.
Nefferson acusa a empresa de adentrar o quarto em que estava hospedado, mexer em objetos pessoais e praticar uma série de atitudes discriminatórias, desde o início da hospedagem que duraria 31 dias.
Para o advogado Felipe Alves, que representa Nefferson nessa ação, nao há dúvidas de que o o hotel agiu de forma racista contra o cliente.
“Quando falamos em racismo, infelizmente, o senso comum de grande parte da sociedade, inclusive as autoridade do Polícia Civil e do Ministério Público de Caxias do Sul, que atuaram nesse caso, quedaram-se silentes, porque têm o entendimento que o ato de racismo é tão somente a expressão verbal ou manifestação explícita do agressor. Todavia, estamos diante de um racismo estrutural e institucional. Por sua vez, o racismo estrutural não precisa necessariamente explícito, mas implícito, na medida em que, um hóspede negro têm a sua intimidade violada, seus pertences mexidos e expulso do hotel por ter, segundo o hotel, guardado sabonetes e toalhas dentro da sua mochila”, disse.

Após prestar queixa na na 8ª Delegacia Regional de Polícia Civil de Caxias do Sul, em 2021, Nefferson publicou um vídeo nas redes sociais em que relatou sucessivas ações do hotel contra ele.
“Por ser uma pessoa preta parece que eu os incomodava o tempo todo. Faltava sabonete e eles não colocavam de volta. Toalha eles não colocavam. Cobertores eles não colocavam. Precisava ligar para a recepção todos os dias mas não colocavam”, relatou.
Na ação, o advogado acusa o hotel de cometer, pelo menos, oito práticas ilícitas contra o representante comercial:
- Constrangimento reiterado enquanto Neferson se hospedava no hotel
Travel Inn; - A acusação indevida de roubo e furto de lençol e toalhas;
- A acusação indevida de fumar e queimar butucas de cigarros no quarto;
- A invasão da privacidade e intimidade ao entrar no quarto e mexer nos
pertences pessoais da vítima sem o seu consentimento e autorização; - Impedir o autor de ingressar nas dependências do hotel e do quarto dentro do prazo contratual;
- A expulsão do hotel como medida desproporcional, extravagante e
estrema; - Coação ameaçadora por parte do segurança do hotel;
- Exposição da imagem e os pertences pessoais dentro de um saco de lixo
Procurado pela produção do portal Altos Papos, em 2021, o Hotel Travel Inn Axten Caxias do Sul informou, através de nota, que “não constatou a prática de discriminação em suas dependências, e levou o fato ao conhecimento das autoridades públicas por meio de registro de ocorrência policial e seguirá colaborando para a correta elucidação do episódio. A rede Travel Inn repudia e não autoriza a prática de qualquer tipo de discriminação, trabalha com a inclusão social e o respeito à diversidade”.
Por João França