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Próximo do Planalto, PL apoia sete governadores de oposição a Bolsonaro em todo o país

Partido com o qual o presidente Jair Bolsonaro tem negociado sua filiação, o PL dá mostras de que busca a aproximação com o Poder Executivo, independentemente da ideologia de quem o comanda. Levantamento feito pelo GLOBO aponta que a legenda do Centrão integra a base de 15 governadores, dos quais sete devem reforçar o palanque de adversários de Bolsonaro em 2022. Esse foi um dos principais motivos para o recuo do presidente, cujo ingresso no PL estava marcado para o próximo dia 22. A cerimônia foi adiada em meio às divergências.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, vai se reunir com dirigentes estaduais da sigla hoje à tarde em Brasília para mapear onde estão os principais entraves ao ingresso de Bolsonaro no partido. A legenda está dividida sobre receber o presidente, seus filhos e aliados. Filiados dos estados do Sul e do Centro-Oeste defendem a guinada bolsonarista do PL, enquanto boa parte dos diretórios do Nordeste e do Norte tentam surfar no desentendimento recente entre Costa Neto e Bolsonaro para desfazer o acordo. O cacique do partido e o presidente discutiram durante uma troca de mensagens por divergências sobre quem daria as cartas no diretório de São Paulo, o mais importante do país.

Costa Neto se irritou com o plano de Bolsonaro de lançar o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, candidato ao governo paulista. O homem forte do PL já havia firmado compromisso de apoiar Rodrigo Garcia (PSDB), vice do governador João Doria, que é adversário do presidente. Caso Doria se viabilize internamente para disputar o Palácio do Planalto pelo PSDB, Rodrigo Garcia deverá estar com ele.

Impasse paulista
O PL hoje integra a gestão Doria e costuma trabalhar pela aprovação dos projetos de interesse do Executivo na Assembleia Legislativa paulista (Alesp). O partido controla uma diretoria no Departamento de Estradas de Rodagem (DER-SP). Deputados estaduais da sigla mantêm relação próxima com o próprio Rodrigo Garcia e acreditam que isso rende bom tratamento por parte do governo aos 31 prefeitos da legenda no estado.

Em meio a esse cenário, Costa Neto indicou durante uma conversa com um interlocutor ontem que a definição sobre o futuro de Bolsonaro na legenda deverá ser resolvida apenas após as prévias do PSDB, no próximo domingo. A avaliação do dirigente é que, se Doria não conseguir votos suficientes dos correligionários para encabeçar a chapa tucana, o impasse tende e se esvaziar. Em tese, Rodrigo Garcia teria mais facilidade em não apoiar Leite, o que possibilitaria que o PL trabalhasse por Bolsonaro e apoiasse o vice-governador. O presidente da República, porém, insiste em uma candidatura de Tarcísio de Freitas ao Palácio dos Bandeirantes, embora o ministro já tenha demonstrado interesse em disputar uma vaga no Senado.

— A ideia é que a gente possa avançar internamente e apresentar ao presidente a solução naqueles municípios onde em princípio ainda está desalinhado. O que é natural, porque o PL é um partido plural — minimiza o senador Carlos Portinho (RJ), líder do PL no Senado.

Um dos argumentos que será apresentado pela ala anti-bolsonarista a Costa Neto na reunião desta quarta-feira é que a eventual entrada do presidente poderá levar à saída de cerca de dez parlamentares da sigla, entre eles o vice-presidente da Câmara, deputado Marcelo Ramos (PP-AM), e o deputado Fábio Abreu (PL-PI). Esse último já anunciou que só irá permanecer se tiver autonomia para se aliar ao governador Wellington Dias (PT) na eleição. Opositores de Bolsonaro argumentam ainda que a filiação de 15 a 20 bolsonaristas levaria para a legenda deputados sem identidade partidária nem compromisso de fidelidade a Costa Neto, mas, sim com Bolsonaro. Destacam ainda que, a médio prazo, o presidente pode retomar o projeto de criação de seu próprio partido, o Aliança pelo Brasil, e esvaziar o PL.