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Arábia Saudita investe em telecomunicação com Brasil no radar

A Arábia Saudita vem aumentando os investimentos em outros países no setor de telecomunicação. Em setembro deste ano, a Saudi Telecom Company (STC), maior operadora de telecomunicações do país, anunciou a aquisição de 9,9% das ações da Telefônica S.A., dona da Vivo aqui do Brasil.

Essa aquisição foi feita por um valor de 2,1 bilhões de euros (cerca de R$ 11,2 bilhões).

Em comunicado, a STC alegou que o investimento considerou a liderança da operadora líder no setor de telecomunicações na Europa e possuir um “portfólio único” de ativos de infraestrutura e plataformas tecnológicas de ponta.

“A Telefônica tem uma presença significativa em três dos maiores mercados europeus, como Espanha, Alemanha e Reino Unido, em além de sua grande presença na América Latina, que inclui o Brasil e outros países”, diz a nota da empresa árabe.

O investimento na companhia é a sua segunda incursão no mercado europeu de telecomunicações, após a compra de infraestruturas de torres no valor de 1,2 bilhão de euros do United Group em abril.

A STC também possui subsidiárias e participações em empresas que operam no Kuwait e no Bahrein.

O Fundo de Investimento Público (PIF) da Arábia Saudita — o Fundo Soberano — que é o principal motor da Visão 2030 do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman para libertar a economia da sua dependência do petróleo, detém 64% da STC.

Os grupos de telecomunicações do Golfo também estão aumentando os investimentos estrangeiro. O Emirates Telecommunications Group, aumentou em março a sua participação no Vodafone Group, outra gigante da Europa, de 11% para 14%.

Estratégia

De acordo com fato relevante divulgado pela Telefônica, o investimento foi realizado por meio da aquisição de ações representativas de 4,9% do capital social e de instrumentos financeiros que conferem exposição econômica a outros 5% do capital social da empresa.

“A Telefônica toma nota da abordagem amigável da STC e do seu apoio à equipe de gestão, da estratégia e da sua capacidade de criar valor”, declarou a companhia espanhola.

De acordo com o contrato, a Telefônica deverá apresentar um novo plano estratégico no dia 8 de novembro com foco no crescimento do fluxo de caixa livre da empresa, que seu CEO disse que poderia chegar a 4 bilhões de euros este ano.

A Telefônica, tal como outras companhias do setor na Europa, tem enfrentado um aperto na rentabilidade devido à concorrência acirrada e à necessidade de investimentos pesados ​​em infraestruturas para a tecnologia móvel 5G de próxima geração.

A empresa tem vendido participações em negócios mais maduros, como cabos submarinos ou mastros móveis, para financiar 5G e fibra ótica.

Aqui no Brasil, a dona da Vivo contabilizou R$ 530 bilhões em investimentos na construção de redes de telefonia, internet móvel e banda larga, leilões de frequências, além de aquisições de concorrentes, como a Oi Móvel mais recentemente e a GVT anos atrás.

Diversificar investimentos

Julian Portillo, professor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, diz que o interesse saudita nesse setor, do ponto de vista econômico, é uma forma de diversificação de investimento.

Segundo ele, telecomunicação é um setor chave atualmente, pois acaba abarcando tudo que é do 5G.

“O investimento nessa tecnologia é bastante massivo, pois está em constante atualização.”

Julian Portillo

Sobre os impactos dessa compra das participações da Telefônica aqui no Brasil, o professor explica que o reflexo vai se dar justamente por essa questão do investimento que precisa ser massivo para 5G.

“Hoje, as operadoras possuem redes 5G aqui no Brasil, mas ainda é modesta. Mesmo com a cobertura avançando, com a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) estabelecendo metas, enfim, ainda precisa de muito investimento para infraestrutura e uma cobertura mais completa”, destacou.

Ele ressalta que na Europa essa tecnologia já está mais avançada e os países têm uma extensão menor.

Portanto, como o Brasil carece dessa infraestrutura, e agora a Vivo pode usufruir deste investimento sendo do grupo Telefônica, a tendência é de que o país venha se beneficiar com essa movimentação.

Por CNN Brasil

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil