Durante a live de ontem (1º), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a mentir que só adquire vacinas aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e distorceu informações sobre decretos de governadores na pandemia do coronavírus. Bolsonaro também defendeu o tratamento precoce, mesmo sem comprovação científica.
Como o governo já adquiriu vacina sem aprovação da Anvisa, Jair Bolsonaro mentiu ao questionar a compra de imunizantes sem prévia outorga da agência da vigilância sanitária. “Alguns reclamam: ‘Devia ter comprado no ano passado’. Bem, se você compra e não são aprovadas, como ficaria essa questão? Iam falar o que da gente? Que nós não teríamos feito um negócio muito legal e teria consequências contra a gente”, disse o presidente.
O governo federal aprovou a compra da vacina AstraZeneca, desenvolvida pela Universidade Oxford, antes mesmo que seu registro para uso emergencial fosse aprovado pela agência reguladora. A compra antecipada de vacinas garante que as doses estejam disponíveis quando os imunizantes forem aprovados.
Jair Bolsonaro ainda disse, na live, que os decretos de alguns integrantes do poder público são abusivos. “É um sinal de que lockdown, a política do fique em casa, de toque de recolher, da possibilidade de confisco da propriedade privada como em estados do Nordeste. É um absurdo isso daí. Alguns governadores, prefeitos, estão baixando decretos que têm poderes mais restritivos do que o estado de sítio”, afirmou.
Sergipe renovou, na última semana, o decreto de calamidade pública que funciona desde abril passado no estado. O texto prevê medidas que podem, ou não, ser adotadas na pandemia, incluindo a possibilidade de requisição temporária de bens e imóveis privados. Entretanto, segundo o governo sergipano, a cláusula é “mera repetição” de uma lei proposta no ano passado pela Presidência da República e aprovada tanto pela Câmara dos Deputados como pelo Senado Federal. Bolsonaro omitiu que o líder do PSL na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (GO), tentou emplacar ainda esta semana um projeto de lei que, se aprovado, ampliaria os poderes do presidente durante a pandemia.
Bolsonaro também tentou fugir da responsabilidade da grande quantidade de mortes que o país sofre todos os dias neste momento, dizendo que culpar o governo federal pelas mortes “não é nada menos do que má-fé”. Segundo autoridades de saúde, inúmeras medidas poderiam ter sido tomadas ao longo da pandemia para controlar o contágio. Entre elas, o uso de máscaras e o isolamento social.
Nenhuma dessas propostas foi incentivada pelo governo federal nos últimos meses. Pelo contrário. Em diversas ocasiões, o presidente e seus apoiadores provocaram aglomerações, ironizaram medidas protetivas e criticaram governadores e prefeitos por adotarem políticas de isolamento, o que dificultou a implementação delas. Os índices de isolamento são baixos, enquanto o Brasil atinge o pico de mortes.
O governo tampouco atendeu a demandas estaduais pela compra de equipamentos e medicamentos necessários ao atendimento de doentes, como aconteceu no caso de Manaus, capital amazonense, que sofreu com a pior crise nacional devido à falta de oxigênio.
A pretensão de Jair Bolsonaro de vacinar 1 milhão de pessoas por dia, citada na transmissão, também é altamente improvável. A meta, citada anteriormente pelo atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, não deve se concretizar devio a diversos adiamentos no calendário de vacinação, como o que ocorreu ontem, quando Queiroga reduziu pela metade o número de doses previstas para o mês de abril.