A tensão do Oscar deste ano, com a pressão para realizar uma cerimônia mais curta, é resultado das mudanças radicais das últimas décadas. Enquanto nos anos finais do século passado o evento crescia, tornava-se mais longo, com mais elementos e atrações, o Oscar 2022 busca o oposto: mais enxuto, com muitos prêmios sendo anunciados fora da transmissão. Para muitos fãs — e sobretudo membros e colegas da indústria — um Oscar mais curto para segurar a audiência em queda é uma ofensa imperdoável. Para a Academia e a ABC, é uma questão de sobrevivência.
O drama que a Academia está enfrentando (e não sozinha, porque eventos de prêmios cresceram à sua sombra como cogumelos) é parte da mudança radical do consumo do entretenimento audiovisual. O desafio que a premiação encara é o mesmo que donos de cinemas enfrentam, na medida em que outras atrações — jogos, seriados, distintos formatos audiovisuais — dividem a atenção do consumidor.
A ideia de uma entrega de prêmios que fosse ao mesmo tempo um show de entretenimento nem sempre existiu. Quando os primeiros Academy Awards foram entregues no dia 16 de maio de 1929, 270 pessoas, entre votantes, indicados e amigos, confraternizaram num jantar no hotel Hollywood Roosevelt. Em 1930, a rádio local KNX cobriu pela primeira vez o anúncio dos vencedores ao vivo. Em 1932, outra rádio local, KECA, criou o primeiro programa sobre o Oscar — “Hollywood on the Air”, que ia ao ar na véspera do anúncio dos vencedores e transmitia ao vivo a cobertura do evento.
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Nos dez anos seguintes, os mesmos grupos de amigos — crescendo aos poucos na medida em que mais integrantes eram convidados para se juntar à Academia — festejavam os vencedores, as emissoras de rádio anunciavam e jornais locais recebiam a lista dos laureados, pontualmente às 23h, enquanto o banquete corria.
Tudo mudou em 1953, com a primeira transmissão da entrega dos prêmios pela televisão. Ouvir vozes ou ler notícias é uma coisa, ver é outra, ainda mais numa cidade que havia tomado a dianteira em criar entretenimento com imagens em movimento. De uma simples entrega de troféus a números de dança, momentos de comédia, discursos de agradecimentos e produções cada vez mais elaboradas, as cerimônias do Oscar viraram um novo entretenimento — louvor com suspense e espetáculo.
A curva de consumo do Oscar de 1953 até 2021 conta toda a história. Trocando de casa regularmente, do grupo NBC para ABC e vice-versa, e expandindo-se na duração e alcance internacional, as cerimônias disparam em popularidade no final dos anos 1970. Em 1983 começam os picos de audiência, especialmente quando filmes de grande popularidade são indicados. O Everest do Oscar é 1998, com “Titanic”: a transmissão alcançou 57,2 milhões de espectadores, apenas nos EUA.
Este triunfo jamais se repetiria. Com a virada do século, com novas gerações, novas audiências e novos formatos de entretenimento, o evento de três horas, com ou sem filmes de sucesso, vem caindo regularmente. Mesmo antes da Covid os números de consumo estavam entre 32 e 29 milhões de audiência. Com a pandemia, mesmo com todas adaptações, os Oscars chegaram ao mínimo: 10,4 milhões de audiência.