Altos Papos

Com uma vítima a cada sete minutos, Rio tem o maior número de casos de estelionato da história

Os golpistas estão mais ativos do que nunca no estado. Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) divulgados nesta sexta-feira indicam que aconteceram 5.955 casos de estelionato no Rio em setembro, o equivalente a uma vítima a cada sete minutos, em média. O número é o mais elevado para o mês de toda a série histórica, iniciada em 2003. Até então, o recorde havia sido registrado em setembro do ano passado, quando foram computados 4.086 ocorrências — ou seja, o patamar atual representou um aumento de 45,8% em relação à marca máxima anterior.

A explosão de golpes nos últimos dois anos, em meio à pandemia da Covid-19, surge em um contexto de forte crise econômica e desemprego crescente. A falta de recursos faz, por exemplo, com que as promessas de enriquecimento fácil mediante investimentos suspeitos pareça mais atrativa.

Não por acaso, o maior percentual de alta nos estelionatos se deu justamente na área da 67ª DP (Guapimirim), onde os casos cresceram 566,7%, saltando de apenas três, em setembro de 2020, para 20 no mês passado. Um dos principais focos de atuação da GAS Consultoria — empresa do ex-garçom Glaidson Acácio dos Santos, o “faraó dos bitcoins”, preso sob a acusação de comandar uma pirâmide financeira — fora da Região dos Lagos, a cidade foi palco de diversas decisões da Justiça favoráveis a clientes lesados, determinando o arresto dos valores investidos em contas ligadas à organização.

Entre as 20 delegacias com maior aumento percentual nos estelionatos, de um total de 136, também aparecem outras áreas com forte atuação do grupo de Glaidson. Estão na lista, por exemplo, três unidades situadas na própria Região dos Lagos, a base central das operações do ex-garçom: a 129ª DP (Iguaba Grande), onde os casos passaram de cinco, em setemro deste ano, para 20 (alta de 300%) no mesmo mês de 2020; a 118ª DP (Araruama), com salto de 23 para 76 ocorrências (230,4%); e a 127ª DP (Armação dos Búzios), onde os golpes subiram 162,5%, indo de oito para 21. Na soma dos sete municípios que compõem a também chamada Costa do Sol, o crescimento nas ocorrências, de 156 para 229, foi igualmente expressivo: 46,8%.

A Região dos Lagos, aliás, não contava apenas com a presença da GAS Consultoria, que prometia rendimento mensal garantido de 10% mediante supostas transações com criptomoedas. A profusão de empresas oferecendo lucros exorbitantes, muito maiores do que quaisquer outros praticados pelo mercado, motivou até mesmo o apelido de “novo Egito”. Só este ano, pelo menos 18 grupos de investimentos similares da região foram acusados de dar calotes nos clientes, a maioria já depois da prisão de Glaidson e da interrupção das atividades da empresa do “faraó”, o que gerou um efeito em cascata.

A febre das pirâmides financeiras também se espalhou por outras partes do estado, inclusive na capital, onde os casos de estelionato sofreram expansão semelhante, subindo de 2.362 para 3.323, ou 40,7%. No mesmo mês de setembro que baseia o cálculo, a Delegacia de Defraudações (DDEF) indiciou cinco suspeitos de receber pelo menos R$ 14 milhões de centenas de pessoas, que aportavam desde valores menores até milhares de reais de uma única vez. Eles atuavam sobretudo na cidade do Rio, mas também estavam presentes em outros estados.

O grupo garantia aos investidores que realizava operações com criptoativos, mas, para a Polícia Civil, o que permitia os pagamentos era tão somente a entrada de novas vítimas no esquema, caracterizando uma pirâmide. Luiz Gustavo Santos de Pontes Galvanho, Max Moreira Quintino, Raphael Ramiro Cardoso de Lacerda, Thiago Achilles de Souza Braga e Wesley Sousa Aragão respondem pelos crimes de estelionato, associação criminosa e crime contra a economia popular.

Já na última quarta-feira, José Tiago de Oliveira Filho e Samantha Carretero Cerqueira foram presos pela 105ª DP (Petrópolis). Acusado de estelionato e alvo de 63 registros de ocorrência, o casal teria movimentado R$ 4 milhões em mais um esquema de pirâmide, vitimando moradores de três municípios da Região Serrana — Petrópolis, Paty do Alferes e Miguel Pereira — e outros dois na Baixada Fluminense, em Magé e Duque de Caxias. As cinco cidades registraram aumento no número de golpes na comparação entre setembro deste ano e o mesmo mês de 2020.