Há quatro anos, em 23 de setembro de 2018, Anitta dizia seu primeiro “Ele não”. Provocada por Daniela Mercury, a cantora se mostrou contrária ao então candidato Jair Bolsonaro (PSL, hoje PL), mas sem sair em defesa de algum candidato.
A iniciativa foi tímida, um pouco criticada, mas marcou o início de uma mudança na imagem da cantora, que atualmente, além de se posicionar claramente e fazer campanha para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se tornou um “ícone pop” da oposição ao atual governo.
A artista, que estimula que seus fãs nem pronunciem o nome de Jair Bolsonaro para não aumentar o engajamento do político – batizando o presidente de Voldemort, em referência ao vilão da saga “Harry Potter” – já bateu boca com apoiadores ao governo, pregou contra o presidente em entrevistas pelo mundo, e está preste a subir em um palanque ao lado de outros artistas.
Vale lembrar que em 2018, bem diferente da Anitta atual, a cantora não queria participar de qualquer movimento político e não agradou com seu posicionamento afirmando apenas que “não vota em candidato machista, homofóbico e racista”.
Naquele vídeo, no entanto, iniciava a campanha de Anitta contra Jair Bolsonaro. Se para muitos fãs, o simples “ele não” não foi suficiente, para bolsonaristas a cantora já surgia como inimiga.
No ano seguinte, em 2019, no Rock in Rio, Anitta virou meme por uma piada política de Titi Müller. Enquanto o público gritava “Ei Bolsonaro vai tomar no c?”, a apresentadora falou: “Vamos ouvir, olha lá, eles chamando a Anitta”. Mais um episódio envolvendo o nome do político e da artista, que mais uma vez optou por não se envolver diretamente.
Anitta enfrentava um desafio. Famosa por “rebolar a bunda” – como dizem muitos quando querem diminuir a artista – a cantora sabia que para realmente entrar em uma briga política precisava mostrar conhecimento. Foi aí que, em 2020, com a ajuda de Gabriela Prioli, fez aulas ao vivo, nas redes sociais, sobre o assunto.
A cantora começou com perguntas básicas, como “o que são os três poderes?”. De forma humillde, mostrou publicamente que política é um assunto inacessível a milhões de brasileiros, mas que ela estava atrás de informações para poder questionar.
Depois disso, a “poderosa” fez diversas lives em que falava de economia, direitos autorais e políticas de minorias, entre outros temas. Anitta, que domina bem o marketing, soube mostrar para quem quisesse ver que estava se informando e que, por isso, ganhava cada vez mais notoriedade para comentar assuntos.
Ganhando reconhecimento na música pelo mundo, Anitta também aproveitou para levar suas preocupações com o país para eventos internacionais e entrevistas em programas fora do país. No MET Gala, em Nova York, por exemplo, conversou com Leonardo DiCaprio sobre democracia e a importância da Amazônia. A cantora encontrou seus aliados.
A mudança final de Anitta veio este ano, com uma nova eleição. Alvo de Jair Bolsonaro e de seus apoiadores, a cantora, mesmo sem morrer de amores por Luiz Inácio Lula da Silva e pelo Partido dos Trabalhadores, declarou apoio ao ex-presidente. E mais: se ofereceu para fazer campanha. Vimos outra versão da artista que há quatro disse não “querer ser obrigada a fazer campanha”.
Anitta concluiu que não há outra candidatura viável para derrotar Bolsonaro e, diante dos sucessivos ataques que recebeu dos apoiadores do atual presidente, decidiu se engajar para ajudar a derrotá-lo.
Na próxima segunda-feira (26), Anitta abre mão até mesmo da “rivalidade” com Ludmilla — com quem já teve desavenças profissionais — para dar o passo mais significativo de sua mudança política nos últimos anos: ela subirá ao palanque de Lula em um grande ato batizado de “Brasil da Esperança”.
A Anitta desafiada por Daniela Mercury, que parecia mais “obrigada” a sair de cima do muro, não é a mesma, e, muito provavelmente, não reconheceria a atual.
Por: Splash UOL
Foto: Reprodução/Redes Sociais