O dólar apresenta queda firme nesta sexta-feira (14), com alívio dos investidores após o presidente Donald Trump não ter imposto tarifas recíprocas imediatas aos parceiros comerciais dos Estados Unidos.
Às 11h52, a moeda tinha perdas de 0,71% e estava cotada a R$ 5,725, caminhando para a sétima queda semanal consecutiva. Já a Bolsa tinha forte alta de 1,08%, aos 126.198 pontos.
Trump detalhou, na véspera, o roteiro para a reciprocidade tarifária que havia prometido enquanto ainda era candidato na corrida presidencial. O memorando mira países que praticam impostos sobre produtos norte-americanos, bem como as chamadas barreiras não tarifárias.
As tarifas serão impostas “país por país” após estudos, começando pelos países com os quais os EUA têm o maior déficit comercial. O secretário de Comércio, Howard Lutnick, afirmou que as análises devem estar prontas até o dia 1º de abril.
Os mercados globais viram com bons olhos o prazo apresentado pelo republicano. A interpretação é de que o anúncio foi uma orientação para que as alas comerciais do governo estudem as barreiras comerciais impostas sobre os produtos norte-americanos, e não uma guinada agressiva em direção ao protecionismo econômico.
Caso a implementação fosse imediata, como temiam os investidores, os riscos de uma guerra comercial ampla poderiam ter sido acirrados.
“Trump tem adotado uma postura mais flexível e menos agressiva do que se esperava na questão das tarifas, visto que a retórica durante a campanha eleitoral foi bastante firme. Esperava-se que ele fosse impor tarifas muito elevadas imediatamente”, diz Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
A leitura, agora, é de que há espaço para negociações e acordos de países na mira de Trump, o que dá margem para que a política tarifária seja mais branda do que o esperado. Isso tem enfraquecido o dólar globalmente.
“O ‘Trump Trade’ [operações Trump, em português] do ano passado, quando o dólar se fortaleceu muito porque os investidores estavam antecipando os efeitos esperados das medidas do novo governo, está sendo revertido.”
O etanol do Brasil é mencionado no memorando. “A tarifa dos EUA sobre o etanol é de apenas 2,5%. O Brasil, por outro lado, cobra uma tarifa de 18% sobre as exportações de etanol dos EUA. Como resultado, em 2024, os EUA importaram mais de US$ 200 milhões de etanol brasileiro e exportaram apenas US$ 52 milhões de etanol para o Brasil”, diz.
Na análise de Pedro Moreira, sócio da One Investimentos, outros produtos brasileiros podem estar na mira do governo norte-americano.
“Alguns estudos mostram que, realmente, o Brasil tem uma tarifa elevada para produtos americanos, enquanto os EUA têm tarifas menores para produtos brasileiros. Alguns segmentos são: minério de ferro, aço, carnes, etanol, café, o que eles chamam de ‘food preparation’. O Brasil deve sofrer algumas imposições em relação a esses produtos.”
Na entrevista coletiva de quinta, Trump afirmou que a política “traz a justiça de volta” aos negócios do país. “Queremos um campo de jogo equilibrado”, disse, acrescentando que uma eventual retaliação por parte das economias afetadas não seria efetiva por causa da política de reciprocidade.
“Se nos impuserem uma tarifa ou imposto, nós imporemos exatamente o mesmo nível de tarifa ou imposto, é simples assim.”
A reciprocidade tarifária segue a esteira de outras medidas já adotadas pelo republicano desde que assumiu o cargo, em 20 de janeiro. Ele confirmou que irá impor, a partir de 4 de março, tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio que chegam ao país. Na semana passada, aplicou tarifas de 10% a produtos da China e de 25% sobre México e Canadá —esta última suspensa até o início do próximo mês, após acordo com os dois vizinhos.
O “tarifaço”, além de estimular uma guerra comercial ampla, tem o potencial de encarecer o custo de vida dos norte-americanos, o que pode comprometer a briga do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) contra a inflação e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados.
Quanto maiores os juros por lá, mais atrativos ficam os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, os chamados treasuries, o que fortalece o dólar globalmente.
O presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, comentou sobre as tarifas em evento em São Paulo nesta sexta.
Segundo ele, os efeitos da política tarifária de Trump podem ser menos intensos no Brasil do que em economias mais dependentes do comércio com os norte-americanos, como a mexicana.
Galípolo também ponderou que a não implementação imediata das tarifas recíprocas gerou alívio no mercado, embora uma eventual guerra comercial global não está descartada e não pode ser tratada como positiva.
“Não se trata de dizer que é melhor com tarifa, ao contrário, é dizer que existe um prêmio considerável de incerteza sobre qual vai ser a política e quais serão os impactos. Essa incerteza, em função de ocorrer ou não ocorrer, tem influenciado o preço dos ativos”, disse.
O presidente do BC também disse que autoridade monetária tem as ferramentas necessárias para perseguir a meta de inflação, ressaltando que o “remédio” dos juros básicos vai funcionar.
A taxa básica de juros do país, a Selic, está em 13,25% ao ano e deve chegar a 14,25% em março. O objetivo do instrumento é conter a inflação e levá-la ao centro da meta de 3% —com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo—, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda).
Os investidores têm demonstrado receios com a trajetória da inflação no país, que encerrou 2024 acima do teto de 4,5% da meta. Ainda assim, a falta de notícias sobre a questão fiscal nas últimas semanas tem favorecido o movimento de ajuste no câmbio, impulsionado, principalmente, pela reversão nas apostas do Trump Trade.
Por Bahia Notícias
Foto: Valter Campanato / Agência Brasil