Altos Papos

“É como se eu estivesse na África”, diz príncipe nigeriano, em visita à Feira de Santana

O príncipe Nigeriano da Cidade de Ilê Ifé, Baba Adimula, realizou, nesta semana, o desejo de conhecer a Bahia. Em visita à Feira de Santana, Adimula afirmou, em entrevista ao programa Altos Papos, nesta quarta-feira, 8, que as semelhanças culturais entre os povos fizeram com que ele se sentisse em território africano.  

“O que eu estou vivendo aqui ‘na Feira’, na Bahia, é como se eu estivesse na África ou na Nigéria. É a mesma coisa, o que o baiano mostrou pra mim. E isso me faz muito feliz a cada dia. Principalmente aqui em Feira de Santana, que eu nunca vou esquecer”, afirmou.

Baba Adimula faz parte da família real que teve domínio sobre um dos territórios nigerianos, mais precisamente na região onde hoje está localizada a cidade de Ilê Ifé, considerada a capital do povo iorubá, no mundo. Vários povos e diferentes impérios viviam no território nigeriano, no entanto, com o processo de colonização europeu, a Nigéria passou a ser ocupada por colonizadores que, como aconteceu aqui no Brasil,  oprimiram e exploraram a população através da escravidão. 

Hoje, Adimula vive em Itaquaquecetuba, na cidade de São Paulo. Decidiu viver no Brasil há 23 anos, depois que visitou o país e foi surpreendido pelos sons dos tambores de candomblé, religião criada no Brasil e que possui matrizes africanas. 

“Em São Paulo, decidimos sair pelo bairro e passamos por uma casa. Ouvimos uma música, um canto. Me pareceu, a princípio, uma música de orixá, que ouvíamos na Nigéria. Essa casa fica lá no Butantan. Eu disse para o meu amigo que queria parar e ver o que estava acontecendo, e ele disse que não ia parar pois era cristão. Então, conversamos e decidimos ver o que era. Entramos na casa, na hora eu pude sentir a África ali. A música, que se chama “Casa de Amor”, tinha muito a ver com a minha terra”, contou. 

A relação entre o Brasil e a Nigéria marca também o imaginário e a memória do Príncipe, antes mesmo de pisar em terras brasileiras. Baba Adimula lembra e conta com entusiasmo o dia em que a guerra civil nigeriana parou, no final da década de 1960, porque aconteceria um jogo do Santos no país e o povo queria assistir Pelé jogar.   

“O Brasil é um país que todo mundo sonha em conhecer por causa do futebol. E a gente sempre consumiu conteúdos vindos do Brasil. A guerra civil terminou em 1967. A guerra que ninguém conseguia parar, Pelé foi capaz de parar por um momento, quando fez um jogo lá na Nigéria. Por isso que a gente nunca vai esquecer do Brasil. Em 1967, o Santos foi jogar na Nigéria contra um time local, e a guerra parou por conta disso. E todo mundo esqueceu da guerra em virtude do jogo, todos queriam ver Pelé”, disse. 

A Guerra Civil na Nigéria aconteceu entre os anos de 1967 e 1970, após várias disputas internas entre as etnias locais, logo depois que o país se tornou independente, em 1960. Colonizada por diferentes povos, mas com o predomínio dos ingleses, que assumiram o controle da maior parte da região, criando uma única colônia, o país é hoje uma República que teve suas primeiras eleições democráticas realizadas a partir dos anos 2000 mas que ainda vive um cenário de instabilidade política.

 Visita à Bahia

O Príncipe Nigeriano está em Feira de Santana a convite da Associação Moviafro, para participar da programação do Concurso Miss Afro Feira 2023, projeto que tem a intenção de valorizar a beleza negra de mulheres do interior da Bahia e que realiza debates formativos sobre questões raciais do país. 

“O Miss Afro está na sua sexta edição e estamos sendo agraciados com a presença de um príncipe. Com a presença dele, as meninas puderam ver e entender qual a essência dos Miss Afro Feira de Santana. Criamos esse projeto para dar empoderamento e conhecimento às meninas. A gente desconstrói a história do príncipe alto, loiro e branco dois olhos azuis. Temos príncipes negros também”, afirma.