Altos Papos

Equipe de ‘Medida Provisória’ vem a Salvador para promover o filme Lázaro Ramos, diretor, e Alfred Enoch, ator de Harry Potter que está no filme, deram entrevista

Já se passaram quase dez anos desde que teve início o projeto de levar a peça “Namíbia, Não” para o cinema. Mas agora, finalmente, o diretor do longa, o baiano Lázaro Ramos, pode comemorar. “Hoje é um dia muito especial, principalmente por ser em Salvador”, revelou o artista, em entrevista coletiva para falar do filme Medida Provisória, que chega aos cinemas no dia 14 de abril.

O filme é baseado no texto de Aldri Anunciação, que estreou em 2011, com direção de Lázaro Ramos. O longa se passa num futuro distópico, quando o governo brasileiro decreta uma medida provisória que obriga os cidadãos negros do Brasil a migrarem para a África, sob a alegação de que, assim, retornariam às suas origens.

A aprovação da medida afeta diretamente a vida do casal formado pela médica Capitu (Taís Araújo) e pelo advogado Antonio (Alfred Enoch), bem como a de seu primo, o jornalista André (Seu Jorge), que mora com eles no mesmo apartamento.

Alfred Enoch, que vive Antonio, é meio inglês, meio brasileiro: ele é filho de um britânico e de uma brasileira e faz questão de ressaltar sua “brasilidade”. Lembra que fez um acordo com a mãe, de se comunicar apenas em português com ela. E ele fala numa clareza impressionante, praticamente sem sotaque. Foi revelado no cinema ainda criança, quando participou dos filmes de Harry Potter, como o bruxinho Dino Thomas.

E tem até um toque de baianês em Alfred: é que ele morou em Salvador por cerca de um ano, quando tinha entre seis e sete anos. Tem boas lembranças da Bahia, mas também carrega um trauma: perdeu-se dos pais durante um Carnaval. A mãe dele, a carioca Etheline Margareth, jura que é mentira e que estava ao lado dele o tempo todo. Nesta quarta-feira, Enoch aproveitou para matar as saudades de um bom acarajé.

“Quando criança, não gostava de camarão seco. Era coisa de criança, mas agora eu adoro!”, festejou.

O ator lembrou de uma outra experiência traumática que teve no Brasil, relacionada ao racismo, tema de Medida Provisória. Quando tinha cerca de dez anos, foi ao Copacabana Palace Hotel visitar um amigo dos pais. Ao tentar passar pela porta, vestindo bermuda e camiseta, foi barrado pelo segurança: “Aqui, você não entra”. Chocado, o menino apontou para os pais, que estavam um pouco distantes dele e disse “Sou filho deles”. O segurança não acreditou. Só depois de gritar pela mãe, finalmente sua entrada foi permitida.

Lázaro Ramos diz que, embora o filme seja uma distopia, há muitas coisas no roteiro que se tornaram realidade, embora já tenha sido escrito há alguns anos:

“Falamos de coisas que não gostaríamos que acontecessem. Mas o roteiro foi escrito há dez anos e algumas coisas realmente aconteceram na vida real. Muitos alertas sobre polarizações, luta antirracista, violências provocadas no nosso dia a dia… Isso se tornou realidade”.

Dois dos personagens principais, André e Antonio, lutam contra o racismo, porém de maneiras diferentes: enquanto um é pacifista, o outro é mais combativo. Para Aldri, as questões de racismo podem ser resolvidas de duas maneiras:

“Acredito em todas as possibilidades de solução. Tem o Malcom X e Martin Luther King. Malcom é conhecido por ser separatista, enquanto Martin Luther King queria integrar brancos e negros. Acho que são duas opções e não à toa ficaram amigos. São antagônicos, mas são possíveis. Eu acredito que pode ser de uma maneira pacifista, tanto que Luther King conseguiu muita coisa”.

Também estavam na apresentação do filme à imprensa Elísio Lopes Jr, roteirista do filme; Tia Má, que faz uma participação como atriz; Claudia Bejarano, produtora do longa; e Sabrina Nudeliman Wagon, da distribuidora Elo Company. À noite, houve duas sessões para convidados.

Por Correio 24 horas