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‘Estudos são importantes para evitarmos culpar a mudança climática por toda tragédia no RS’, diz climatologista 

A tragédia no Rio Grande do Sul contabiliza 151 vítimas, nesta quinta-feira, 16, além de ter afetado diretamente mais de 2,2 milhões de pessoas. De acordo com o climatologista José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), existe uma alta probabilidade de que as chuvas intensas sejam uma consequência das mudanças climáticas, mas ainda são necessários estudos para definir os culpados.

“Nos últimos 60 anos, observa-se um aumento de chuva em toda a região sudeste da América do Sul, o que é consistente com a tendência de aquecimento global. No caso de um evento individual como a tragédia no RS, primeiro precisamos fazer estudos de atribuição, analisando todas as evidências para encontrar o culpado. Esses estudos são importantes para evitarmos culpar a mudança climática por toda tragédia que acontece, mesmo que a probabilidade seja alta, devemos confirmar isso”, afirmou.

Números da Defesa Civil mostram que até o momento já são mais de 615,3 mil pessoas fora de casa devido à tragédia. Os prejuízos para essas milhares de famílias são incalculáveis. Ainda segundo Marenga, a chuva já era prevista, mas faltou gerenciamento de risco.

“As chuvas já eram previstas por centros de meteorologia, o Cemaden tinha emitido alertas de riscos biológicos e hidrológicos com dias de antecedência, a parte de prevenção foi feita, mas o que faltou foi o gerenciamento de risco. A população muitas vezes não presta atenção nos alertas ou tem medo de sair de casa devido aos saques, por isso é importante que o governo e a população entendam que chuvas extremas podem matar”, alertou.

Referência internacional, Marengo, que é natural do Peru e radicou-se no Brasil, é um dos mais importantes cientistas do país, em 2019 foi considerado um dos pesquisadores mais influentes do mundo e também eleito como membro titular da Academia Mundial de Ciências, indicado na área de desenvolvimento de questões sobre previsão climática, mudanças climáticas, impactos e desastres naturais. 

Foto: Fapesp