Altos Papos

“Existe uma tendência de generalizar a cultura cigana”, diz professor da Uefs sobre assassinato na Bahia

A morte de uma jovem de 14 anos da etnia cigana Calon, no extremo sul da Bahia, suscitou um debate nacional sobre práticas e dinâmicas culturais dos ciganos brasileiros. No entanto, em entrevista ao programa Altos Papos, nesta segunda-feira (17), o professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Jucelho Dantas da Cruz, aponta que a sociedade observa o caso a partir de uma lógica de generalização da cultura cigana.

“Existe uma tendência das pessoas generalizarem as informações e passarem a ver o povo cigano a partir de um episódio que ocorre com um indivíduo de origem cigana. Infelizmente, isso ocorre. Nas redes sociais, vemos muitos comentários equivocados sobre a cultura cigana”, afirmou.

No dia 6 de julho, Hyara Flor Santos foi assassinada a tiros, em casa. O marido da adolescente, também cigano e menor de idade, é o principal suspeito e já teve mandado de apreensão expedido pela justiça. A família de Hyara diz que o tiro não foi acidental e sustenta a versão de que a vítima foi morta pelo próprio marido, a mando do pai dele, como uma forma de se vingar por causa de um suposto relacionamento extraconjugal entre a mãe do adolescente e um tio de hyara.

Em reportagem exibida pelo Fantástico, neste domingo (16), o Coordenador Regional de Policial Civil Moisés Damasceno afirmou que “para a gente, a partir de olhares da nossa cultura, nós não vemos isso como motivação. mas a cultura cigana é diferente. eles têm tradições diferentes das nossas, então não é impossível que isso tenha acontecido”.  

Jucelho, que é ex-representante dos povos ciganos no Conselho Estadual para a Sustentabilidade dos Povos e Comunidades Tradicionais, e pertence à mesma etnia de Hyara, ressalta, no entanto, que o comentário do policial é equivocado e produz mais desinformação sobre a comunidade cigana, que historicamente é vítima de um processo de exclusão e estigmatização.

“A opinião do delegado encarregado do caso é equivocada, pois ele vê essa situação como algo possível dentro da cultura cigana, quando na verdade isso também ocorre em outras culturas. As pessoas tendem a generalizar, mas com os ciganos isso acontece de forma mais intensa, com uma conotação negativa mais forte. Casos como esse repercutem e os ciganos são cada vez mais tratados como marginais e pessoas que cometem verdadeiras atrocidades, embora isso ocorra em todos os setores”, afirmou.

Foto: Rafael Carvalho / Altos Papos