O episódio do Podcast Altos Papos, disponibilizado nesta quarta-feira, 22, nas principais plataformas de streaming, discute sobre a guerra de espadas com o professor e doutor em sociologia pela Universidade de Brasília, Moacir Carvalho e o promotor de justiça do Ministério Público do Estado da Bahia, José Reis Neto. Clique aqui e confira o episódio completo.
A guerra de espadas é uma tradição centenária popular do Nordeste brasileiro, que ocorre durante as festas juninas nas cidades do Recôncavo Baiano como Cruz das Almas, Cachoeira, Muritiba, dentre outras da região. A guerra acontece em ruas abertas das cidades, onde os espadeiros atiram espadas e busca-pés, um foguete de explosão, em meio aos outros. Em 2011, a Vara Criminal de Cruz das Almas proibiu a guerra de espadas na cidade após ação pública do Ministério Público da Bahia solicitando a proibição, com base no Estatuto do Desarmamento, instituído em 2003, por causa do risco à vida. Em 2017, o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) vetou a luta de espadas em Senhor do Bonfim e suspendeu uma lei que tornava a prática patrimônio cultural do município. Além disso, a legislação estadual prevê que fabricar, possuir e soltar espadas é crime, cuja pena pode chegar até seis anos de prisão.
Carvalho explica como Cruz das Almas, considerada a capital da guerra de espadas, se tornou popular pela tradição na Bahia. “Não houve mobilização precoce da população contra a espada como houve em Cachoeira, por exemplo, que foi muito dura. Cruz das Almas era uma cidade muito menor, muito mais marginal, ou seja, esse jogo tinha mais espaços livres, mais possibilidades, tinha uma população que estava menos preocupada com essas questões, e, ao mesmo tempo quando há o processo de turistificação das festas no Brasil inteiro, se percebe que a espada pode ser também um atrativo turístico e não apenas algo que causasse repulsa”, pontuou.
O promotor relata que com o crescimento urbano das cidades, especialmente Cruz das Almas, foi necessário o controle para a prática “Surgiu uma demanda social, efetivamente há muita gente que é contras as espadas e que sofre com essa prática, no sentido de não poder sair de casa, sofrer danos patrimoniais. Então, surgiu essa demanda por algum tipo de controle em relação à prática. Se iniciaram debates em 2010, no sentido de tentar de alguma maneira tornar a prática minimamente segura. Essas conversas não evoluíram, houve uma resistência muito grande de um certo grupo de praticantes da guerra de espadas, no sentido de não aceitar fixação de bitola para fabricação dos artefatos ou para não aceitar a restrição a algumas determinadas áreas. E partir disso, em 2011 se iniciou de fato um trabalho de enfrentamento no sentido de aprender esse material e de tentar impedir a realização da guerra de espadas”.
O Podcast Altos Papos tem coordenação de Valdeir Uchôa, produção de Joanna Morbeck e João França, texto e roteiro de João França, apresentação de Sérgio Di Salles, João França e Joanna Morbeck.