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Lula busca solução ‘pacífica’ para disputa de terras com morte de indígena na BA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta terça-feira (23), que vai discutir com a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, sobre o ataque a pessoas da terra indígena Caramuru-Catarina Paraguassu, situada no sul da Bahia.

“Queria dizer para o povo baiano que pode ficar tranquilo que vou discutir muito esse assunto hoje à tarde, aqui em Brasília, com a ministra. Quero colocar o governo federal à disposição para ajudar o [governador] Jerônimo e os povos indígenas para que a gente possa achar uma solução para que a gente resolva isso de forma pacífica”, disse Lula em entrevista à Rádio Metrópole, da Bahia. A conversa foi transmitida pelas redes oficiais da Presidência da República.

A declaração do presidente aconteceu depois que a indígena Maria Fátima Muniz de Andrade, do povo Pataxó Hã Hã Hai, foi morta no domingo (21), em Potiraguá, na região sul do estado. O episódio de violência terminou também com o cacique Nailton Muniz Pataxó baleado.

A ministra Sonia Guajajara chegou na Bahia na segunda-feira (22) para acompanhar a investigação do ataque.

“Sei o que aconteceu lá, que morreu uma pessoa e outras estão feridas. Conversei com o Jerônimo domingo à noite e agora de manhã ele me mostrou o que está fazendo”, pontuou o presidente, que também se solidarizou com os familiares da indígena que foi morta.

Os suspeitos do ataque a tiros são fazendeiros, presos em flagrante no domingo. Um indígena que estava com um arma artesanal também foi detido.

Entre os feridos está ainda uma mulher que teve o braço quebrado e outras pessoas hospitalizadas, mas sem risco de morte. O cacique passou por cirurgia no Hospital Cristo Redentor, em Itapetinga.

“A questão indígena é uma questão nacional, que envolve governo federal, estadual e municipal e aqui está mostrando isso. É importante garantir essa segurança no nível municipal, estadual e federal para que o povo tenha liberdade e tranquilidade dentro do seu território”, disse Sônia Guajajara à TV Bahia.

Disputa de terras
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), a situação ocorreu durante a ação de um grupo intitulado Movimento Invasão Zero. Já o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) indica que o crime é decorrente da disputa de terras entre indígenas e fazendeiros.

Segundo o MPI, cerca de 200 ruralistas da região se organizaram através de um aplicativo de mensagens. Eles teriam convocado fazendeiros e comerciantes para recuperarem, por meios próprios e sem decisão judicial, a posse da Fazenda Inhuma, ocupada por indígenas no último sábado (20). Os ruralistas teriam cercado a área reivindicada pelos Pataxó com dezenas de veículos.

A Polícia Militar conta que um ruralista foi ferido com uma flechada no braço, mas o quadro de saúde do homem é estável. Em meio à ação policial, quatro armas de fogo encontradas com os fazendeiros foram apreendidas e encaminhadas para o Departamento de Policia Técnica (DPT).

O caso é investigado pela Delegacia de Itapetinga e acompanhado pela Diretoria Regional de Polícia do Interior (Dirpin/Sudoeste-Sul).

As defensoria públicas da Bahia (DPE-BA), da União (DPU) e o Ministério Público Federal (MPF) cobram medidas efetivas contra os ataques sofridos pelos povos indígenas no estado. Em nota conjunta, as instituições solicitam uma reunião em caráter de urgência com o governador Jerônimo Rodrigues (PT).

A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb) também se pronunciou por meio do presidente da entidade, Humberto Miranda. Em nota, a Faeb argumenta que combater invasões de terra é defender o Estado de Direito.

Por g1

Foto: MATEUS BONOMI/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO