Para “esquentar” a estreia de Avatar: o caminho das águas, que chega aos cinemas em dezembro, Avatar, o primeiro filme da série, reestreia nesta quinta-feira, 22. A volta de Avatar, em versão 4K, não é apenas um aceno aos nostálgicos. Faz parte de uma estratégia de marketing. Neste caso, apoiada em bases sólidas.
Quando lançado, em 2009, Avatar fez grande sucesso e não apenas de público. Boa parte da crítica considerou o blockbuster de James Cameron algo pelo menos inusitado. Um ponto fora da curva no mapa rotineiro dos arrasa-quarteirão, em geral cheios de efeitos especiais, muita ação, nenhuma reflexão, poucas nuances e muita previsibilidade.
Avatar é de outra ordem. Para começar, parte de um desejo pessoal do diretor. Ou ao menos assim reza a lenda. Cameron conta que sonhou com a história e queria transformar essa visão em filme. Era Pandora, um planeta, ou melhor, uma lua imaginária, na qual os habitantes viveriam em perfeita harmonia com a natureza.
Já em 1995 ele escreveu um roteiro, contendo já os personagens, o ambiente, a flora, a fauna e os humanoides que lá habitavam. No entanto, precisava de recursos, tanto financeiros como tecnológicos, para colocar essa ideia em prática. E ambos chegaram em 2005 com a apurada tecnologia IMAX 3D e os milhões da 20th Century Studios.
Os efeitos especiais se aprimoraram no período e permitiram a experiência imersiva num mundo de fantasia habitado por um povo humanoide, uma flora bizarra e animais fantásticos e ferozes. Essa experiência era propiciada pelo 3D estereoscópico e seu inédito grau de profundidade e ilusão do real.
Em termos de resposta do público, foi uma avalanche. Avatar tornou-se um dos filmes mais rentáveis da história do cinema, talvez o mais rentável. De acordo com o portal IMDB, custou US$ 237 milhões e teve arrecadação mundial bruta de US$ 2,8 bilhões. Sim: bilhões de dólares. Só no Brasil, levou cerca de 9,150 milhões de pessoas aos cinemas, em números do portal Filme B.
Já o desempenho no Oscar 2010 foi bem menos espetacular. Embora indicado em nove categorias, o filme venceu em apenas três, todas técnicas: fotografia, design de produção e efeitos visuais. Perdeu ou esteve ausente nas categorias chamadas “artísticas”, como melhor filme, direção, roteiro e elenco.
De acordo com o diagnóstico do Oscar, seria Avatar apenas uma façanha tecnológica, embora de grande apelo popular? Nada mais duvidoso. Revistas tradicionais de cinema e exigentes não o esnobaram. Pelo contrário. A austera Positif lhe deu as cinco estrelas da cotação máxima. E mesmo a rabugenta Cahiers du Cinéma, aferrada desde os anos 1950 ao dogma da política dos autores, concedeu três estrelas em cinco, o equivalente a “bom”. O agregador de críticas Metacritic lhe dá 83 pontos para um máximo de cem.
O enredo de Avatar é bem conhecido. Jake Sullivan (Sam Worthington), um veterano de guerra paraplégico, toma o lugar do irmão gêmeo, morto num assalto, e embarca em missão para o distante planeta Pandora. O objetivo é extrair um mineral valiosíssimo que, por infelicidade, encontra-se apenas no local ocupado pelos Navi, que cultuam a mãe natureza. Para livrar-se dos Navi, será preciso criar um ser parecido com eles e enviá-lo como infiltrado para convencê-los a mudar de lugar e abrir caminho para os humanos.
Estes, diga-se de passagem, chegam ao planeta armados até os dentes. Esse ideal de violência encarna no coronel Quaritch (Stephen Lang), o vilão da história. Se não for por bem, vai por mal, porque essa é a filosofia do colonizador.
E é bem do que trata Avatar, em seu cerne. Faz um comentário contemporâneo e crítico sobre o processo colonizador e também sobre a ameaça à natureza. Filme político e também ambiental – dimensões que hoje não se colocam mais como antagônicas, como tempos atrás, mas complementares.
Afinal, o destino do planeta Terra depende de atitudes políticas – tais como o abandono de combustíveis fósseis e, mais ainda, do dogma do crescimento econômico infinito. A humanidade precisa frear – e hesita em fazê-lo. Com a Amazônia pegando fogo, geleiras derretendo e o verão europeu atingindo temperaturas desérticas, Avatar parece ainda mais atual do que quando foi lançado, 12 anos atrás.
Por Correio Braziliense
Foto: divulgação






