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Paixão muda nossos hábitos mas tem prazo de validade, explica neurocientista

Explicar o amor e a paixão é uma tarefa que cientistas, escritores e artistas se debruçam há séculos. Gary Chapman percebeu que são variadas as formas de amar e escreveu “As Cinco Linguagens do Amor”. Luís Vaz de Camões recorreu ao paradoxo para descrevê-lo: “é um contentamento descontente”. E o Portal Altos Papos recorreu recorrei ao neurocirurgião e neurocientista Fernando Gomes Pinto para explicar como o nosso cérebro se comporta quando estamos apaixonados. 

O frio na barriga, o suor nas mãos, o  desejo do encontro, os arrepios. Quem já se apaixonou sabe que as reações físicas e psicológicas são variadas. Gomes Pinto, que já escreveu um livro sobre a Neurociência do Amor, afirma que esse sentimento é “fruto de alterações do funcionamento do cérebro” e se divide em fases específicas. A primeira delas é a paixão. 

“A paixão é marcada por uma grande intensidade e curta duração. Como todas as nossas outras emoções, é regulada pela ação de hormônios e neurotransmissores – que são substâncias químicas que exercem efeitos gerais no corpo e no cérebro. A paixão dura, em média, de 6 meses a 2 anos. Irremediavelmente, ela vai embora e cabe ao casal ver o que vai fazer com o que restou.”, explica. 

Segundo o neurocientista, “o cérebro gasta cerca de 20% de toda energia que o corpo consegue adquirir através do processo de alimentação e da respiração. Mas quando a pessoa está apaixonada esse gasto pode aumentar demais. Existe um processo de superfoco alto sobre a pessoa que desperta a paixão, e faz acionar o circuito cerebral do prazer, liberando alguns neurotransmissores que fazem com que a gente funcione de forma diferente. Então, por exemplo, existe a liberação de dopamina quando a gente está perto da pessoa que a gente gosta, e isso faz com que a gente tenha bem estar, tenha prazer, tenha satisfação, mas porque também existe a liberação de noradrenalina, então assim, se a pessoa precisar tomar um avião, um ônibus, passar um dia inteiro em uma viagem só para dar um beijinho, falar um oi para a pessoa que ela gosta e voltar, está tudo certo. Ela tem energia para isso acontecer. E por outro lado, alguns outros neurotransmissores, como a serotonina, tendem a ficar em níveis mais baixos, de modo que a pessoa fica só pensando naquela pessoa querida e amada todo o tempo.”

Mas o fim de um relacionamento amoro, após todo essa intensidade, também pode ser traumático e muito doloroso. Por isso, Gomes Pinto explica que algumas ações podem ajudar no processo de superação desse momento. 

“Deixar de seguir a pessoa na rede social, tirar fotos do alcance do seus olhos pelo menos, evitar frequentar lugares que tinham muito significado para o casal, entre em outras atividades como, por exemplo, passar a praticar atividade física, porque isso faz com que você libere diversos neurotransmissores que ajudam a equilibrar essa parte emocional do cérebro, procure se permitir organizar uma viagem para alguma coisa que você possa quebrar sua rotina do que a gente estava realmente acostumado a fazer. E principalmente, abrir o coração para um novo relacionamento, entendendo que, na verdade, nós não dependemos de uma outra pessoa para sermos felizes.”, disse.

Foto: reprodução