A Pastoral Afro-Brasileira, criada em 1988 pela Igreja Católica, tem como principal objetivo a evangelização como aliada das lutas do povos negro do país, além de valorizar a identidade das comunidades afrodescendentes. Em Feira de Santana, o padre Ibrahim Muinde, que é vigário no distrito quilombola da Matinha, explicou que o trabalho pastoral é, antes de tudo, uma atividade comunitária.
“A Pastoral Afro, até hoje, busca fazer algo que o Concílio Vaticano II pediu, que é não evangelizar de forma colonizadora, mas dialogar com o que o povo tem por meio da inculturação. A fé ou o evangelho não chegam ao povo como se ele não tivesse nada. Eles têm, eles são. Então, é importante a forma como o evangelho chega, valoriza e reconhece essa riqueza própria do povo”, afirmou o queniano que coordena a Pastoral Arquidiocesana Afro-brasileira em Feira de Santana, desde 2020.
O líder religioso considera que é a partir da compreensão e do respeito da cultura e da história das comunidades negras que a evangelização deve acontecer. “A musicalidade, a dança, a dinâmica de viver, a partilha, são esses aspectos que a Pastoral Afro procura valorizar dentro de uma comunidade quilombola. Os conflitos [entre religiosos e as comunidades só] acontecem porque estamos dentro de uma sociedade que construiu essa negatividade, demonizando o que pertence ao negro. E, infelizmente, usando também a palavra de Deus para distanciar esse povo da sua própria cultura, por meio da discriminação, do racismo e dos preconceitos”, destacou.