Uma investigação da Polícia Federal (PF) revelou que uma organização criminosa usou farmácias de fachada em diversos estados brasileiros para desviar quase R$ 40 milhões do programa Farmácia Popular. A verba fraudada teria sido usada para lavar dinheiro e financiar o tráfico de cocaína em países como Bolívia e Peru.
O caso foi revelado na noite de domingo (20) pelo Fantástico, da TV Globo. As fraudes envolviam o uso de CPFs de pessoas inocentes, empresas registradas em endereços inexistentes e a compra de CNPJs por meio de laranjas. A apuração começou após a apreensão de 191 quilos de drogas em Luziânia (GO), levando à prisão do caminhoneiro responsável pelo transporte e de Clayton Soares da Silva, empresário com farmácias no Rio Grande do Sul e Pernambuco.
A partir da análise do celular de Clayton, a PF identificou o funcionamento do esquema e chegou a Fernando Batista da Silva, conhecido como “Fernando Piolho”, apontado como líder da organização. Segundo a PF, ele utilizava o nome da filha para abrir empresas e movimentar recursos sem chamar atenção. A empresa Construarte, ligada a Fernando, teria recebido mais de R$ 500 mil de investigados por tráfico.
A investigação identificou ligações entre o grupo e o Comando Vermelho, além de repasses a pessoas em áreas próximas à fronteira com o Peru e a Bolívia. Uma das beneficiárias seria esposa de um integrante do Clã Cisneros, organização criminosa peruana especializada em laboratórios de cocaína.
Farmácias fantasmas registradas em lotes vazios, como uma em Águas Lindas (GO) que teria recebido R$ 329 mil, também foram descobertas. Em outro caso, uma drogaria em Campo Belo (MG) foi registrada em nome de Francisca Ferreira de Souza, empregada doméstica que consta como proprietária de cinco farmácias em diferentes estados. Ela vive em Luziânia e é casada com Brazilino Inácio dos Santos, investigado como sócio de dez empresas que movimentaram R$ 2,5 milhões entre 2018 e 2019.
Segundo a PF, cerca de 160 mil CPFs foram usados no esquema, envolvendo 148 farmácias reais ou fictícias. “Essa organização criminosa utilizou o programa Farmácia Popular para fazer a lavagem desses recursos. Posteriormente, ela passou a utilizar esse programa social para investir no próprio tráfico de drogas”, afirmou José Roberto Peres, superintendente da PF no Distrito Federal.
O diretor do Departamento Nacional de Auditoria do SUS, Rafael Bruxellas Parra, revelou que são combatidas diariamente cerca de 140 mil tentativas de fraudes no Farmácia Popular. Em um dos casos, um dentista de Sumaré (SP) descobriu que seu CPF havia sido usado para registrar a retirada de até 20 caixas de insulina por mês, sem que ele tivesse qualquer problema de saúde.
As investigações continuam para identificar todos os envolvidos e rastrear os recursos desviados.
Por g1
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