O encerramento da fábrica da Ford em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), no começo do ano, pegou de surpresa a cadeia de fornecedores da montadora e levou à suspensão imediata de contratações.
Segundo reportagem do jornal Valor, mais de dois meses depois, só uma parte das demissões foi efetivada. As empresas negociam com o sindicato, e a crise, definida como “irremediável” por moradores e gestores públicos, avança lentamente na cidade baiana de 304 mil habitantes.
A prefeitura de Camaçari estima que 12 mil moradores perderão seus empregos. Só a Ford e suas fornecedoras vão demitir 7,5 mil funcionários diretos.
Os funcionários da Ford alocados na linha de produção tinham cinco faixas salariais distintas, que variavam entre R$ 1,8 mil e R$ 7,7 mil. Para Ornelas, a saída da Ford agrava as contradições da industrialização baiana. “Diferentemente de São Paulo, aqui não se formou um ABC baiano. O interior continua com seus bolsões de pobreza e Salvador se consolidou como cidade dormitório para muitos.”
Pouco mais de 6 mil dos 7,5 mil trabalhadores da cadeia produtiva da Ford moram em Camaçari ou municípios vizinhos, como Dias d’Ávila e Simões Filho. O restante, informa o sindicato dos metalúrgicos local, é natural de Salvador. Nas contas do prefeito Elinaldo Araújo (DEM), entretanto, a saída da Ford deixa rastro de desemprego maior ao dizimar postos terceirizados e induzidos na economia local. É nesse contingente adicional que entram, por exemplo, os 84 motoristas e 20 mecânicos da empresa de ônibus que transportava os trabalhadores da Ford.
Os 12 mil camaçarienses que podem perder os empregos, segundo a prefeitura, representam 15% dos 78,1 mil ocupados da cidade. Segundo o IBGE, até 2018, Camaçari tinha 26,6% da população ocupada. O índice, diz o prefeito, vinha estável e caiu com o avanço da pandemia. A saída da Ford fará o indicador despencar.
O cenário, entretanto, só vai ganhar contornos definitivos no segundo semestre de 2021. Hoje, as demissões estão restritas a pouco mais de 20% dos empregados da cadeia, das fornecedoras fora do condomínio industrial da Ford. Para o restante, 5,8 mil pessoas, um acordo na Justiça entre montadora e sindicato garante negociação coletiva com manutenção de salários e benefícios até junho, o que tem sustentado parte importante da massa salarial da cidade.
Além do previsto em demissões sem justa causa, esse contingente vai receber indenização por tempo de casa, espécie de compensação ao antigo compromisso de estabilidade para o chão de fábrica até 2024. Ratificado pela Ford em março do ano passado, o documento vale para 18 das 30 fornecedoras da montadora. Em nota, a Ford confirmou a negociação, mas não entrou em detalhes: “A Ford tem trabalhado intensamente para minimizar o impacto do encerramento da produção, cumprindo nossas obrigações e indo além do que está previsto em lei.”