Um cessar-fogo temporário e parcial das forças russas em torno da cidade ucraniana de Mariupol foi anunciado neste sábado, mas a trégua, que permitiria que civis deixassem a cidade durante um período de cinco horas, não foi cumprida, e a prefeitura adiou a retirada da cidade.
Segundo a agência de notícias russa RIA, os civis poderiam deixar Mariupol e Volnovakha entre meio-dia e 17h (das 9h às 14h no horário de Brasília). Além disso, suprimentos e medicamentos também poderiam chegar à cidade durante o período.
Mas, apesar de a Rússia garantir que as tropas que cercaram a cidade portuária do Mar de Azov, no Sul da Ucrânia, suspenderiam os disparos, o cessar-fogo não foi cumprido e o prefeito de Mariupol, Vadim Boichenko, adiou a retirada de seus cidadãos.
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“A retirada de civis foi adiada por razões de segurança, já que as forças russas continuam bombardeando Mariupol e seus arredores”, afirmou a prefeitura no Telegram, pedindo que os civis que estavam reunidos nos pontos de saída da cidade “retornem para os refúgios”. “Negociações estão em curso com a Rússia para estabelecer um (cessar-fogo) e garantir a instalação de um corredor humanitário”.
— Estou agora em Mariupol, estou na rua. Ouço bombardeios a cada três ou cinco minutos — disse à rede BBC Alexander, um engenheiro de 44 anos e morador da cidade. — Eu posso ver carros de pessoas que tentaram fugir e estão voltando. Está um caos.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, por sua vez, disse que a Rússia está verificando as informações. Mais cedo, Boichenko havia dito que o cessar-fogo permitiria um trabalho de restauração da infraestrutura destruída pelos bombardeios. A cidade, que em um período normal tem cerca de 450 mil habitantes, está há alguns dias sem energia elétrica, alimentos, água, gás e transportes.
Um funcionário da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), que está em Mariupol com sua família, contou que eles recolheram “neve e água da chuva” diante da impossibilidade de conseguir água devido às longas filas nos locais de distribuição.
— Queríamos conseguir também o pão social (distribuído pelas autoridades locais), mas o horário e os pontos de distribuição não estavam claros. Segundo a população, muitos armazéns foram destruídos pelos mísseis e o que sobrou foi levado pelas pessoas mais necessitadas — disse.
Localizada a cerca de 55 km da fronteira russa e a cerca de 85 km do reduto separatista de Donetsk, apoiado pela Rússia, Mariupol é até hoje a maior cidade nas mãos de Kiev na área de Donbass, que inclui as regiões de Donetsk e Lugansk, parte delas sob o controle de rebeldes pró-russos.
Por isso, o controle da cidade tem caráter estratégico para Moscou, já que permitiria garantir uma continuidade territorial entre suas forças procedentes da Península da Crimeia e as unidades dos territórios separatistas pró-Moscou.
O conselheiro do Ministério do Interior ucraniano, Anton Herashchenko, disse neste sábado que devem ser feitos outros acordos com a Rússia sobre o estabelecimento de corredores humanitários para remover civis das comunidades da linha de frente.
— Definitivamente haverá mais acordos como este para todos os outros territórios — disse.
Apesar do anúncio de trégua, não cumprido até agora, forças de Moscou continuaram com suas ofensivas durante a madrugada. As tropas russas se aproximam ao mesmo tempo da capital, Kiev, onde encontram uma intensa resistência, e da cidade de Chernihiv, ao norte, alvo de bombardeios constantes.
Em dez dias de guerra, Moscou já conquistou o controle de duas cidades importantes em 10 dias de invasão: Berdiansk e Kherson, na costa do Mar Negro, Sul da Ucrânia.
por O Globo