Altos Papos

Dia da Mulher: “eu nunca me senti tão útil como delegada da DEAM de Feira”, diz Clécia Vasconcelos

Titular da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM) de Feira de Santana, Maria Clécia Vasconcelos, ou simplesmente “Dra. Clécia”, enfrentou lutas diárias por igualdade de gênero, respeito e direitos, ao longo de seus 36 anos de carreira na polícia, um campo profissional majoritariamente masculino.

Prestes a completar uma década de atividade na DEAM, a delegada, que é alagoana de Maceió e radicada feirense, relembrou, no Altos Papos, episódios que marcaram sua carreira.

“Quando eu vim pra a Deam, em Feira, havia um pensamento equivocado de que violência contra mulher é ‘mimimi’, briga de marido e mulher. Mas aqui eu entendi que quando você prende o agressor ou encaminha a mulher para melhorar a autoestima dela, você consegue ver o feedback na hora. Eu nunca me senti tão útil como delegada da DEAM de Feira”, afirmou.

Clécia, que é filha de policial e neta de delegado, ingressou na Polícia Civil como investigadora, aos 18 anos, após aprovação em concurso público, numa época em não havia exigência de curso superior para desempenhar a função.

Com atuação em delegacias nos municípios de Itaberaba, Serrinha, e Irecê, onde foi coordenadora de polícia, por exemplo, vivenciou situações que marcaram profundamente a carreira e pavimentaram os caminhos para Feira de Santana, cidade onde vivia a família.

“Existe um estereótipo de que a mulher tem que falar manso, ser delicada, recatada e do lar, e eu não sou nenhuma dessas três coisas. Após eu e minha equipe prendermos Paulo Escopeta, em Irecê, eu ouvi do meu chefe que ‘tinha que ser uma mulher pra fazer uma merda dessa’”, relatou.

Em seguida foi transferida para Itaberaba e posteriormente para Feira de Santana, onde assumiu a Deam, onde, segundo ela, desempenha o trabalho mais difícil de sua carreira policial, devido ao grande número de ocorrências e a necessidade de ação rápida para proteger a vida das vítimas.

“Se eu trabalho com homicídio, vou descobrir quem matou. Se eu trabalho numa delegacia de crime contra o patrimônio, vou investigar e descobrir quem é o ladrão. Mas se eu trabalho na DEAM, onde uma mulher registra a ocorrência de lesão e outra de ameaça, qual o delito mais grave? Eu não tenho tempo nem pessoal para dar vazão ao mesmo tempo. Imagine se o agressor no outro dia concretizar a ameaça e matar a vítima? É muito desafiador”, constatou.

Foto: Rafael Carvalho