Altos Papos

Fundadores do Charlie Brown Jr. se reencontram nos palcos

Em meio a bandas novatas, que disputavam uma vaga em um dos principais festivais do país, veteranos do rock nacional levaram um público fiel ao Estádio Palma Travassos, em Ribeirão Preto (SP), no último sábado, 20.

Uma multidão estava ali para presenciar o reencontro, nos palcos, de Marcão Britto e Thiago Castanho, membros fundadores do Charlie Brown Jr.. Eles se uniram para celebrar os 30 anos da banda e, ao mesmo tempo, honrar o legado deixado pelos colegas Chorão e Champignon, cujas mortes completam dez anos em 2023.

“Entendemos que é uma turnê de homenagem, principalmente, ao Champignon e ao Chorão, mas também a tudo que fizemos, a toda nossa obra, aos nossos hits, nossos discos, nosso lado B. Fazemos isso com muito respeito e muito carinho”, afirmou o guitarrista Thiago Castanho.

O show em Ribeirão Preto fechou um concurso de bandas promovido pelo festival João Rock. A vencedora, a banda Lane, de Vila Velha (ES), foi escolhida para abrir o palco principal do evento, em que o Charlie Brown Jr. já tocou várias vezes.

‘Respeitando o passado. Eternizando o legado’

Tanto nos bastidores quanto no palco, a frase “Respeitando o passado. Eternizando o legado” marca o tom do show, que reúne ainda Bruno Graveto e Pinguim Ruas, nas baterias, Denis Mascote, no baixo, e Egypcio, ex-membro da banda Tihuana, nos vocais.

Feliz de ter recebido o convite para participar dessa turnê, o vocalista faz questão de ressaltar que não está preenchendo o lugar que era de Chorão, mas prestando uma homenagem, junto com amigos de tantos anos.

“Foi uma honra ser convidado para essa tour maravilhosa, que marca os 30 anos de Charlie Brown Jr.. Só é uma pena muito grande não termos mais o Chorão e o Champignon. A turnê está bem irada, estamos curtindo pra caramba, porque o público está comparecendo em peso e, pra gente, esse é o ápice. O que a gente mais queria era sair em uma tour e ver que a galera queria estar com a gente”, diz.
No palco, ele honrou os amigos dando sua voz a inúmeros sucessos da banda, como “Tudo que ela gosta de escutar”, “Me encontra”, “Te levar daqui” e “Zóio de Lula” – todas acompanhadas por fãs emocionados, principalmente quando os antigos membros eram citados.

Contudo, também tiveram surpresas no setlist, com músicas que antes ficavam de fora das apresentações

“Estamos resgatando músicas que o Charlie Brown praticamente nunca tocou ao vivo, como ‘Penetra’ e ‘É quente”. Finalmente, estamos tendo essa oportunidade, porque são vários álbuns, várias músicas”, revelou Britto, lembrando ainda que, pela primeira vez, a banda está com dois bateristas no palco.

Continuidade do legado

Apesar de não estarem no line-up do João Rock 2023, que acontece em 3 de junho, os membros do tributo afirmam que possuem um carinho e um respeito muito grande pelo festival e que, por isso mesmo, fizeram questão de participar de alguma forma, fechando a noite do concurso de bandas promovido pelo evento.

“Sempre foi uma data muito esperada por todos nós, porque participar do João Rock era algo pra bater no peito e falar ‘vencemos’. Esse ano não está sendo diferente e esperamos estar sempre presentes, levando a história do Charlie Brown pra frente”, avaliou Graveto. Com exceção do Mascote, todos da composição atual já se apresentaram no festival.

Castanho também destacou que é interessante ver, entre as atrações dos diferentes palcos, a influência que a banda santista teve em outros artistas, inclusive de gêneros diferentes.

“Tem uma galera no Trap que eu acho muito legal. Eles não estão fazendo rock, mas têm muita infuência do Chorão, o que é muito bacana de ver. Mas os sons são diferentes agora do que eram dez anos atrás, como já era diferente de 20 anos antes. Mas quando a música é boa, quando ela feita com verdade, você vê que passam 30 anos e elas continuam relevantes. Isso é bom para o rock, é bom para todo mundo.”

Encontro de gerações

Para Britto, as composições do Charlie Brown Jr. refletem o que seus integrantes estavam vivendo no momento em que foram criadas e também como era o mundo. Só que, ao mesmo tempo, continuam se comunicando com as novas gerações.

“Era um outra época, o mundo era outro. Tinha uma liberdade maior e um cobrança menor em relação ao que se tem hoje, com a cultura do cancelamento, por exemplo. O que era escrito e feito ali era um reflexo do que a gente vivia, mas acho que ainda fala muito bem com a galera mais nova, tanto que estamos vendo o quanto a nossa música continua relevante e quantos jovens estão descobrindo a banda”, contou.

Mais além das apresentações, essa percepção também tem ficado clara para os membros do tributo através de interações nas redes sociais e do maior número de ouvintes nas plataformas digitais.

Diante de um público que parece aumentar a cada dia, Britto revela que a banda sente que ainda tem muito para fazer, mesmo que esteja vivendo um dia de cada vez.

“Queremos tocar e, enquanto as pessoas tiverem querendo ouvir nosso som, estaremos tocando. O Charlie Brown deixou uma discografia extensa e sentimos que ainda temos muito o que fazer. Estamos vivendo um dia após o outro e achamos que assim é mais legal do que roterizar demais”, afirmou.

Por fim, o membro fundador ressaltou que não está descartado fazer um registro dessa turnê de reencontro. “Não é algo que estamos programando, mas também não está fora de cogitação”.

Por G1

Foto: Rhudson Rhuam/Divulgação João Rock