Altos Papos

Mãe acusa PM de execução a jovem após blitz em Feira de Santana

“Quem deveria proteger, matou meu filho”. O lamento é da mãe de Marcelo Felipe Guerra dos Santos Rocha, um jovem de 18 anos supostamente assassinado por policiais militares em Feira de Santana, a cerca de 100 km de Salvador. Desde o dia 1º de abril, a assistente social Daniela Guerra, 37, se divide entre o luto e a luta por justiça.

De acordo com Daniela, o filho foi assassinado sem apresentar qualquer resistência, após ele ter desviado de uma fiscalização de trânsito. 

Sem a sua CNH, Marcelo teria estacionado na Avenida Maria Quitéria por volta das 19h56, aguardando o fim da fiscalização. Depois de duas horas, ele teria dado ré, o que iniciou uma perseguição com a polícia. Chegando na Avenida Presidente Dutra, ele teria parado o carro, ligado os faróis, e sido alvejado e morto em seguida, dentro do próprio veículo.

“Ele nunca teve arma, nada, e disseram que foi resistência. Ele foi morto covardemente, e ainda teve a sua imagem suja. Sei que nada do que eu fizer vai trazer ele de volta, mas eu luto pela justiça, por mim e para que outras mães não passem pelo mesmo”, diz Daniela.

Nesta terça-feira (21), Daniela, normalmente, comemoraria o seu aniversário com a sua família e amigos, mas neste ano, não houve celebração. “É muito triste para mim. Sempre fui amante da vida, mas hoje não tive forças nem para levantar da cama, fiquei no meu quarto lembrando dele. Tenho gratidão pela vida, mas não tenho graça mais nenhuma para nada. A polícia não matou só o meu filho, me matou também, destruiu minha família, eu era uma pessoa alegre”, lamenta.

“Hoje em dia vivo por viver. Apenas sobrevivo e nada mais. Todos as noites pergunto a Deus se isso é um pesadelo, mas quando amanhece vejo que ele não está aqui e a dor aumenta, me invade, me consome, me rasga por dentro, e tenho que conviver com isso”, completa.

Daniela tem outra filha de seis anos e, com a exposição do caso, teme também pela sua vida. “Enquanto sofro, tenho medo porque sei que os policiais assassinos estão soltos. Saio a pulso para trabalhar, mas tenho pânico, vou assustada, não consigo mais dirigir, não posso ver policial na minha frente, passar em blitz”, diz.

“Me sinto vulnerável porque o meu rosto já foi estampado nas manchetes de jornais. Eles me conhecem, mas eu ainda não os conheço. Ainda tenho uma filha para criar e, por isso, tenho medo do que podem fazer comigo. Mas ainda que custe a minha vida, preciso lutar por ele, sei que ele faria isso por mim”, expõe a mãe de Marcelo.

No momento, Daniela aguarda, com o apoio de dois advogados, o desfecho do processo em andamento na Justiça. Ela relata que a ação foi encaminhada para o Ministério Público, mas houve uma devolutiva pedindo laudos incompletos, que já foram enviados.

Procurada, a Polícia Militar (PM) informou, em nota, que instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM) pelo Esquadrão de Motociclistas Asa Branca para apurar as circunstâncias da ocorrência. O comunicado afirma que durante o IPM serão feitas buscas por registros de imagens do ocorrido, bem como requisições de provas periciais e testemunhais.

A nota da PM ainda diz que, conforme o comando da unidade, o menino teria efetuado disparos de arma de fogo contra a guarnição, que revidou. “Ele foi atingido e socorrido para o Hospital Clériston Andrade, onde não resistiu. A arma de fogo encontrada com ele, o Celta e os pertences encontrados no interior do veículo foram apresentados na Delegacia Territorial”, diz o órgão.

Por Metro1